Kinosophia

GRUPO DE ESTUDOS: Kinosophia - Ciclo de Filmes e Debates

Atualizada em 21/08/14 11:48.

É TUDO COPIÃO: O MIMÉTICO, O CULTURAL E O POLÍTICO

HOJE, 09/12, não teremos sessão do Kinosophia!

 

Kinosophia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

KINOSOPHIA - CICLO DE FILMES & DEBATES

É TUDO COPIÃO: O MIMÉTICO, O CULTURAL E O POLÍTICO

Cartaz Kinosophia 2013-2 

[Cartaz em PDF]

 

Introdução

O Ciclo & Debates Tudo é copião foi pensado para esse projeto do Grupo de Estudos Kinosophia com o objetivo de marcar uma ambiguidade quase cômica da palavra “copião”. Em primeiro lugar, copião diz respeito ao fato de não haver um original do filme. Em segundo lugar, há um processo de imitação e representação do público em sua recepção do filme como cópia de si mesmo ou como atitude que copia o que vê. Em terceiro lugar, há a cópia no processo de criação do filme, seja como simulação, seja como invenção (emulação).

 

  1. Tudo é copião: a natureza técnica e reprodutível do filme

 

Sabemos sobre a característica infinitamente reprodutível do filme e da ausência de um original que seja determinado por sua unicidade e pelo seu “aqui e agora”. O filme, segundo o autor que tece a diferença deste com a obra de arte tradicional, Walter Benjamin, é constituído por uma outra ‘natureza’: a técnica. Quando se dizia película para o material que constituía o filme, percebia-se o seguinte encadeamento: do filme fotográfico com perfurações para a revelação do filme, surgia o negativo e chegava-se à primeira cópia de trabalho, o copião. O copião era, pois, essa espécie de boletim de filmagem, de primeira prova, uma coleção de takes para verificação de luz e correções, uma passagem do negativo para a cópia, cujo potencial reprodutível marcaria o sucesso comercial do filme multiplicado em infinitas cópias.

 

  1. Tudo é copião: o caráter mimético na recepção do filme

 

  1. O ver-se reconhecido

À parte o caráter técnico que distingue a nova função artística do filme, existem outras dimensões miméticas – de cópia – implícitas na relação de criação e recepção do filme. É também Walter Benjamin quem nota positivamente a mímesis ocasionada pelos filmes russos no público de trabalhadores que se veem reconhecidos na telona. Não se trata, nesse caso, de copiar o que se vê na tela, mas de se ver reconhecido na cópia projetada.

    1. O projetar-se no projetado

O contrário do ver-se reconhecido se apresenta como mímesis perversa, a cópia ao contrário, causada por um processo de falsa identificação do público com os atores e atrizes. Seria o que Adorno qualifica como mimetismo, isto é, a adequação do público à imagem que ele assiste, de forma a se confundir, a se camuflar no ambiente que reflete a aparência e as atitudes representadas na tela: cópia não só do vestir, mas do sentir, do agir, do falar, do gesticular, do contestar, do beber, do fumar, etc etc.

 

  1. Tudo é copião: o caráter mimético como simulação e emulação

 

Tanto Adorno quanto Benjamin podem ser filiados a um antigo entendimento de mímesis que assume ora um significado positivo, ora negativo. Aristóteles considerava a mímesis em três sentidos: como simulação, como emulação e como identidade. Nos dois primeiros sentidos, encontramos o que condena e o que liberta a mímesis. A simulação lembra a cópia como mimetismo ou falsa identificação, porque não é identificação com o mundo real. O segundo significado remete à cópia como criação, um significado importante em vários momentos da história da pintura, nos quais não se exige do artista a fidelidade do que se copia, mas a criatividade a partir do que se copia. Neste caso há uma incorporação do objeto copiado e sua transformação criativa.

É interessante notar, nessas dimensões, o que é simulação e o que é transformação criativa, quando falamos da relação do cinema norte-americano com outras culturas e países. Esse é o objetivo geral do ciclo: encontrar a medida de ambiguidade nessa relação de simulação e criação.

 

  1. Os filmes do ciclo

 

  1. F for fake

O ciclo inicia com a discussão sobre o falso e o verdadeiro no filme de Orson Welles intitulado F for fake (Verdades e mentiras), de forma a discutir o limite entre criação e falsificação no âmbito do absolutamente reprodutível e construtivo.

 

    1. O cinema americano como fonte: afeições e rejeições

 

Com relação aos aspectos culturais e políticos, escolhemos dois exemplos de cultura que oscilam na aceitação ou rejeição da cultura imperialista norte-americana, criando representações desta e de personagens que se comportam ora como mocinhos, ora como bandidos, ora como os dois em momentos diferentes.

 

  1. O Cinema Alemão de Diretor e o amigo americano

O primeiro exemplo será o do Cinema Alemão de Diretor e sua adoção de um padrão hollywoodiano de fazer filmes, adoção do espaço físico das Américas (o imaginário de conquista), cumprindo um movimento de identificação e rejeição do americanismo. Os diretores em questão são Rainer Werner Fassbinder, Werner Herzog e Wim Wenders. A base teórica para discussão é o teórico Thomas Elsaesser.

 

    1. O Cinema Brasileiro e o irmão norte-americano

 

O segundo exemplo será o momento político de tentativa de adoção do Brasil pelos Estados Unidos, com a encomenda de produtos culturais como os cartoons para Walt Disney e filmes. O grande exemplo que marca essa ambição é o filme encomendado e jamais concluído a Orson Welles sobre a cultura brasileira: It’s all true (É tudo verdade). Esse documentário foi recuperado no trabalho de pesquisa de Rogério Sganzerla, do qual surgiu uma trilogia. Nem tudo é verdade é o título do filme escolhido para iniciar esta parte do ciclo, sobre o conflito marcado pela relação do Brasil com o “irmão americano” opressor, num contraste claro ao “amigo americano” libertador do mesmo período na Alemanha do final da guerra.

Na sequência, pretende-se mostrar filmes das décadas seguintes que, ao buscar um modelo no neo-realismo italiano, tenta reagir internamente às tentativas de implementação de uma indústria cinematográfica brasileira nos moldes hollywoodianos e no registro da simulação descarada – o estilo da paródia é bastante utilizado. Matar ou correr é um exemplo deste tipo de filme. Rio 40º, de Nelson Pereira dos Santos, é a contrapartida. Terra em transe, de Glauber Rocha, é o retrato sofrido da dominação política encenada alegoricamente. Para entender o domínio em retrospectiva, o filme que fecha o ciclo é O dia que durou 21 anos de Camilo Tavares.

 

É tudo copião, portanto, fala sobre a falta de original, de cópias meramente imitativas à cópias criativas e intercâmbios culturais na linguagem do filme, por um lado, e por outro, de processos de alienação social, de domínio e libertação política.

 

 

Filmes:

Parte I

F for fake – Verdades e mentiras de Orson Welles

É tudo verdade de Orson Welles

 

Parte II

O casamento de Maria Braunde Rainer Werner Fassbinder.

Lolade Rainer Werner Fassbinder.

Strozeck de Werner Herzog

Oamigo americano de Wim Wenders

Paris – Texas de Wim Wenders

 

Parte III

Nem tudo é verdade de Rogério Sganzerla

Matar ou correr de Carlos Manga, com Oscarito, Grande Otelo – paródia de HighNoon.

Rio, 40 graus de Nelson Pereira dos Santos

Terra em Transe  de Glauber Rocha

O dia que durou 21 anos de Camilo Tavares.

 

Participantes do Kinosophia: Carla, Edson, Fernando, Geraldo, Peterson, Talita, Iure.

Convidados (debatedores):

 

Externos (a confirmar)

Celso Favaretto

Pedro Hussak

 

Internos

Adriano Correia

Carmelita Felício Brito

Marcos Rosa

Rita Márcia

Rodrigo Cássio

Thiago Santoro

 

Referências

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